sábado, 14 de março de 2015

Há Espíritos?


Anna Prado e a materialização de Espíritos
              2. Admitimos a existência da alma e da sua individualidade após a morte, é necessário admitir também:
                1º) Que a sua natureza é diferente da corpórea, pois ao separar-se do corpo ela não conserva as propriedades materiais;
                 2º) Que ela possuía consciência própria, pois lhe atribuímos a capacidade de ser feliz ou sofredora, e que tem de ser assim, pois do contrário ela seria um ser inerte e de nada nos valeria a sua existência.
            Admitindo isso, é claro que a alma terá de ir para algum lugar. Mas para onde vai, e o que é feito dela? Segundo a crença comum, ela vai para o Céu ou para o Inferno. Mas onde estão o Céu e o Inferno? Dizia-se antigamente que o Céu estava no alto e o Inferno embaixo. Mas o que é o alto e o baixo no Universo desde que sabemos que a Terra é redonda; que os astros giram, de maneira que o alto e o baixo se revezam cada doze horas para nós; e conhecemos o infinito do espaço, no qual podemos mergulhar a distâncias incomensuráveis?
            É verdade que podemos entender por lugares baixos as profundezas da Terra. Mas o que são hoje essas profundezas, depois das escavações geológicas? O que são, também, essas esferas concêntricas chamadas céu de fogo, céu das estrelas, depois que aprendemos não ser o nosso planeta o centro do Universo, e que o nosso próprio Sol nada mais é do que um entre milhões de sóis que brilham no infinito, sendo cada qual o centro de um turbilhão planetário? Que foi feito da antiga importância da Terra agora perdida nessa imensidade? E por que estranho motivo este imperceptível de areia, que não se distingue pelo seu tamanho, nem pela sua posição, nem qualquer papel particular no cosmo, seria o único povoado de seres racionais? A razão se recusa a admitir essa inutilidade do infinito, e tudo nos diz que esses mundos também são habitados. E se assim é eles também fornecem os seus contingentes para o mundo das almas. Então, voltamos à pergunta: em que se tornam as almas, depois da morte do corpo, e para onde vão? A Astronomia e a Geologia destruíram as suas antigas moradas, e a teoria racional da pluralidade dos mundos habitados multiplicou-as ao infinito. Não havendo concordância entre a doutrina da localização das almas e os dados das ciências, temos de aceitar uma doutrina mais lógica, que não lhes marca este ou aquele lugar circunscrito, mas dá-lhes o espaço infinito: é todo um mundo invisível que nos envolve e no meio do qual vivemos, rodeados por elas.
            Há nisso alguma impossibilidade, qualquer coisa que repugne à razão? Nada, absolutamente. Tudo nos diz, pelo contrário, que não pode ser de outra maneira. Mas em que se transformam as penas e recompensas futuras, se as almas não vão para determinado lugar? Vê-se que a idéia dessas penas e recompensas é absurda e que dá motivo à incredulidade. Mas entendemos que as almas, em vez de penarem ou gozarem em determinado lugar, carregam em seu íntimo, a felicidade ou a desgraça, pois a sorte de cada uma depende de sua condição moral, e que a reunião das almas boas e afins é um motivo de felicidade, e tudo se tornará mais claro. Compreendamos que, segundo o seu grau de pureza, elas percebem e tem visões inacessíveis, às mais grosseiras; que somente pelos esforços que fazem para se melhorarem, e depois das provas necessárias, podem atingir os graus mais elevados; que os anjos são as almas humanas que chegaram ao grau supremo e que todos podem chegar até lá, através da boa vontade; que os anjos são os mensageiros de Deus, incumbidos de zelar pela execução de seus desígnios em todo o universo, sendo felizes com essa missão gloriosa; e a felicidade de após morte será uma condição útil e aceitável, mais atraente que a inutilidade perpétua da contemplação eterna. E os demônios? Compreendamos que são almas das criaturas más, ainda não depuradas, mas que podem chegar, como as outras, ao estado de pureza, e a justiça e a bondade de Deus se tornarão racionais, ao contrário do que nos apresenta a doutrina dos seres criados para o mal de maneira irrevogável. Eis, afinal, o que a mais exigente razão, a lógica mais rigorosa, o bom-senso, numa palavra, podem admitir.
           Como vemos, as almas que povoam o espaço são precisamente o que chamamos de Espíritos. Assim, os Espíritos são apenas as almas humanas, despojadas do seu invólucro corporal. Se os Espíritos fossem seres à parte na Criação, sua existência seria mais hipotética. Admitindo a existência das almas, temos de admitir a dos Espíritos, que nada mais são do que as almas. E se admitimos que as almas estão por toda parte, é necessário admitir que os Espíritos também estão. Não se pode, pois, negar a existência dos Espíritos sem negar a das almas.

O Livro dos Médiuns; Allan Kardec

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